25%?...

    O S. ( motorista da M.) diz-nos  que os combustíveis subiram 25%.... e que agora tudo vai aumentar, nomeadamente os candongueiros. A M. responde-lhe que o povo devia manifestar-se e ele sorri, baixa os olhos e diz que não dá...  Começamos a "picá-lo" e acaba por confessar que as pessoas tem medo e que  uns 2 meses atrás "desapareceram" dois homens que incitavam o povo a manifestar-se e  protestar...

30 dias (II)

 Fez ontem 1 mês que parti e hoje 1 mês que cheguei...

FENACULT 2014

     Domingo passado visitei uma exposição de pintura  e escultura ( FENACULT 2014) na marginal de Luanda.... claro que não podia faltar o Pai Grande...

Alucinações (III)

Resolvo comprar o jornal Sol versão Angola.... 39 páginas, uma revista...500 Kwz ( 3,99 €)...

Luz

     6ª feira...chego a casa e pela escuridão do prédio e o barulho de fundo  ( geradores) percebo que não  há luz.... verifico os alimentos no congelador e percebo que já deve ter faltado há muitas horas....

amigo gerador, vamos a isso!

  

 

(Sim, sim.... continuem a construir desalmadamente prédios altíssimos e não cuidem das infraestruturas que não é preciso!! São 22:30 e continuo a gerador...)

Só Deus sabe...

   E ao terceiro  fim de semana cá :

  Bem,  teria tido um sábado perfeito se não tivessem marcado uma reunião para às 14 horas que a essa hora passou para às 15h e que aconteceu efectivamente às 17:00..... O que aqui é recorrente. Nada acontece à hora marcada... A principal causa é o trânsito... embora eu ache que isso já é uma desculpa porque já toda a gente entrou na onda de quando for, será...

   Desde que cá estou acho que me converti ao catolicismo.... Quando me perguntam qualquer coisa que envolva terceiros eu respondo.. "Só Deus sabe". nunca vi sitio onde as regras, horários e decisões mudem tanto como aqui... Uma verdade absoluta à 2ª feira, já não o é à 3ª.... e volta a sê-lo à 6ª feira...

Enfim.....

Nacionalismos...

 

 (...) " Habituámo-nos a fazer essa identificação da nação com o seu povo.  Dentro do país, ajuda  a aumentar uma sensação de nacionalismo, por sinal muito cultivada na imprensa oficial. Enquanto na Europa a palavra nacionalista passou a ter uma conotação negativa, em Angola é um termo usado com orgulho para especificar todos os que de alguma forma se empenharam na luta pela independência." (...)

in "À Descoberta de Angola"

 

 

 

 ( O cartaz diz : " Somos uma só pátria e um só povo. Comandante- em -chefe ordene!")

Mãe pátria no coração e..... no estômago!

Mesmo longe.... tento ajudar a economia e compro o que é nosso!!!

Mabílio (II)

  Entrar no edifício é recuar muitos anos.... Se tirarmos as prateleiras de ferro e as mercadorias o resto deve estar  mais ou menos igual  aquando abriu na década de 1920 do século XX.

 

  A começar pelo Srº já de idade que nos fica com os sacos de compras do supermercado e nos dá um pequeno cartão manuscrito para que os possamos levantar depois. Os balcões são todos de madeira antiga,os tetos são altos com ventoinhas e  todo o ambiente é de armazém colonial antigo. Nas paredes fotografias antigas da fachada do edifício e de um Sr. negro e anão que desconheço quem terá sido.

 

  Os produtos são quase todos importados e muitos da Pátria mãe... Lençois Sampedro, molas da roupa Neolar made in Portugal etc etc .... e caixas de cartão com etiquetas do Porto de Leixões  a serem descarregadas e a chegarem às prateleiras.

 

   Enquanto espero na fila para pagar, o sr. de idade vem ter comigo, solícito e simpático com um cesto para eu colocar os 10 cabides (de plástico!!!!): " Ponha no cesto e pode por no chão para não estar carregada"... Paguei, recolhi as compras e quando passei a porta regressei a 2014.

Mabílio

Edifício Mabílio de Albuquerque

Luanda [São Paulo de Luanda], Luanda, Angola

Habitação

Construído em 1894, é um interessante edifício da viragem do século, sobretudo pela utilização de estatuária a coroar a cornija. Ocupa os números 23 a 29 da Rua Major Kanyangulu (antiga Rua Direita), e foi classificado por despacho n.o 47, de 08.07.1992. À semelhança de muitos exemplos contemporâneos em Portugal, insere‐se no tipo da arquitetura doméstica urbana de Oitocentos, apresentando dois pisos, com cinco vãos de arco de volta perfeita cada, tendo os superiores uma sacada com guarda embutida em ferro forjado. A construção destaca‐se das envolventes, pois apresenta, de cada lado, um vão térreo embutido em muro, separando‐o do prédio anexo.

Isabel Martins, José Manuel Fernandes

in " http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=66"

A baixa de Luanda

     Uma das coisas que gosto é de ir às compras ao fim de semana, principalmente no sábado de manhã quando o comércio está todo aberto e há montes de pessoas nas ruas.

 

  A baixa tem edifícios muito bonitos e antigos, embora muito degradados. Os letreiros fazem lembrar os de Lisboa nos anos 70. Se nos abstrairmos do lixo e da sujidade acaba por ser um passeio muito interessante. Claro que também muito barulhento: Os candongueiros, as vendedoras, os carros... e claro os rapazes pelas ruas. É raro sair e não falarem comigo...  pedem dinheiro,  cumprimentam ou dão conselhos ( madrinhá, não vás por aí qui pódis cair"). Hoje foi um conselho de saúde : " Madrinhá, esse cigarru vai-ti fazer mal".

 

  Quando cá estive em Março/Abril, a M levou-me ao Mabílio que são uma espécie de armazéns com tudo para a casa,  jardim e utilidades várias: lençois, toalhas, panelas, utensílios de cozinha, tecidos etc etc. Como precisava de cabides resolvi lá voltar.  

Outras vidas também tão diferentes

     Chego às 6:30 ( entro às 7:00)... O segurança diz-me "Já cá estão duas meninas". Dou uma volta e não encontro ninguém. Procuro, novamente,  e encontro a C. ( senhora da limpeza que entra às 6:30)  deitada em cima de um cartão no chão da lavandaria. Chamo-a "C, são 6:30 está na hora de começar as limpezas". ela sorri e levanta-se. Pergunto-lhe a que horas chegou, responde  que às 6:00... Pergunto-lhe porquê e responde-me explicando que onde mora se sair mais tarde leva 2 a 3 horas a chegar. Portanto acorda às 4:00 e sai de casa às 5:00 de forma a chegar a horas*.

    Pergunto-lhe quem mais chegou e ela responde que foi a A. ( que entra às 7:00) e que está deitada no vestiário.... digo-lhe para a deixar estar e para a acordar  às 6:50...

 

 

* e de repente o meu tm tocar às 5:30, o meu banho quente de manhã , a  saída às 6:20 e  a viagem de 10 minutos com o motorista parecem-me puro luxo....

Uma vida diferente

     Esta minha segunda vinda está a ser muito diferente da primeira...

 

  O trabalho começou a sério o que tem significado dias com  uma média de 12/13 horas (trabalhadas)....mas não me incomoda muito.

 

  O que me incomoda é estar mais longe da casa onde estive/estou e não poder ir a pé.... depender de um motorista e do trânsito... e essencialmente não andar  na rua,  ver e observar ( e quando dá fotografar)....

Alucinações ( II)

 Continuando com o Zaping.... eis os telejornais de outras paragens....

Alucinações ....

  Num (raro) momento de tédio faço  zaping televisivo...

Big show cá do sitio

Meu Deus.... com tantas ideias boas para importar ( Pasteis de Belém por exemplo!) tinham logo que escolher isto....

Opiniões ( II)

  Reúno-me com um pai, Angolano nascido em 1962... Questiona-me acerca da qualidade do pessoal docente com formação local. Diz-me que a educação aqui  é de péssima qualidade e que o ensino é uma incompetente e completa desorganização . Defende (também)que nos tempos coloniais a educação era muito melhor e que ele próprio a fez em Luanda, fazendo, depois o ensino superior em Portugal onde esteve ao nível dos outros colegas ( nascidos e educados em Portugal).... Diz-me " Sabe onde os políticos e influentes daqui educam os filhos? No estrangeiro! Eles dizem que é de qualidade, mas depois mandam os filhos para fora porque sabem que aqui não vale nada!"...

Opiniões

  Numa viagem para casa com o Sr M. e presos no trânsito, enquanto observamos um homem que remexe o lixo, começamos a conversar...

 

  Diz-me que  em Luanda está tudo mal... Os generais e núcleo duro do governo vivem  "à grande", enquanto a maioria vive na miséria. Não há velhos porque, pura e simplesmente, morrem antes de lá chegar. Os poucos que lá chegam afirmam que no "tempo do colono"* e apesar de tudo as coisas eram muito melhores e mais justas....  Mas apesar disso tudo mantém a esperança num futuro melhor.

 

   Pergunto-lhe o que acham os Angolanos dos Portugueses.... diz-me que gostam deles e que são bem vindos...

 

 

* A expressão é dele

Luanda ( II)

 
  Regressando quase 4 meses depois acho a cidade um pouco mais limpa ( ou menos suja...). Existem novos e mais  caixotes do lixo e um zelo ( quase hercúleo) dos "almeidas locais" de tentar manter tudo limpo. Começam também a aparecer casas de banho públicas.

   Mas, o civismo continua a ser algo desconhecido por estes lados... e o lixo continua a ser mandado para o chão e os muros e becos continuam a ser casa de banho...

O Anibal vai-se roer de inveja....

    Quatro montras numa zona movimentada cheias de fotografias de várias épocas da vida do pai grande para celebrar o seu aniversário....

 

 

( A fotografia foi tirada  à distância com TM e muito a medo.... Não com medo de ladrões, mas  sim de policias... a última coisa que eu precisava era de ir parar a uma esquadra para justificar o facto de estar a fotografar o grande líder....)  

 

Luanda...

     Estas imagens caracterizam bem Luanda.....  ruas com areia e buracos,  prédios dos tempos coloniais degradados, musseques, edifícios antigos recuperados e edifícios enormes a nascer por todo o lado....

visitante nº 1000....

   Estava a pensar oferecer algo* ao visitante nº 1000.... entretanto entre a confusão da viagem e a loucura dos últimos dias nem dei por ele....

  Temos que adiar para o nº 2000....


* Uma lagosta de Cabo Ledo ou uma T-shirt com a cara do grande líder tão em voga na capital....

Empreendedorismo é isto! ( II)

Não há secador de roupa? Não há corda? Não há estendal? Sem problema! A coisa resolvesse!

(Para os mais distraídos... vejam as carrinhas brancas...)

Leituras Recomendadas ( IV)

   Um guia de viagem bem diferente do habitual e muito interessante.

Vistas (parte II)

 

Já foi.... salão de beleza e depois centro de cópias e "oficina de PCs e impressoras"....

Antes

Agora é um...... outra coisa diferente....ainda não percebi o quê....

 







Depois

Vistas

 As vistas da minha janela mudaram ligeiramente....

Antes



Depois

  ( onde antes existia um prédio altíssimo... agora existem dois)

O optimismo da M.

    Quando reencontro a M. ( empregada) pergunto-lhe como está o filho ( que tinha partido o braço). Responde que está óptimo e que o braço já está bem...ficou torto mas está bom...

  Será optimismo ou  serão expectativas baixas?

  

E para não me esquecer como funciona...

    Nem 48 horas depois de ter chegado a Luanda, no Domingo, faltou a luz todo o dia. E lá vamos nós de volta ao mesmo: gerador! 

E como correu a viagem? ( parte V)

Luanda

 

   Às 4:20 da manhã chegámos finalmente a Luanda! 

   O aeroporto continua mais ou menos igual. Desta vez estavam 2 funcionários da saúde. Um via os Boletins de Vacinação Internacional e o outro  recolhia os passaportes e encaminhava para outro sector alguns passageiro Africanos (Ébola?).

 

   O passageiro alcoolizado gerou grande interesse ( saiu acompanhado de seguranças da RAM e policias) e por isso a parte dos passaportes e vistos foi mais demorada mas sem perguntas... Estavam todos mais interessados em ver o que acontecia ao dito passageiro.

 

    Cerca das 5:10 da manhã saí finalmente do aeroporto!

 

   Na viagem para casa com o motorista M. reparo que a cidade está toda enfeitada com bandeirolas... lembra-me Lisboa e os Santos Populares. Pergunto o que se festeja/festejou: " Foi o aniversário do presidente"... Ah, pronto está bem... cada cidade/ país lá tem o seu santo padroeiro....

E como correu a viagem ? ( parte IV)

    E.... finalmente às 22:20 ( com 2 horas de atraso) levantamos voo.
    Eu e a C ficámos, no meio do avião, nas primeiras cadeiras logo a seguir à zona vip. A coisa até prometia porque tínhamos espaço para esticar as pernas e um ecrã de tv à frente. Eu fiquei no meio, com a C à direita e uma passageira à esquerda de nacionalidade desconhecida ( tanto podia ser Sul da Europa como Norte de África). Depressa percebi que deveria ser Marroquina e passageira habitual dado que se dirigia à tripulação com muita familiaridade.

  Se a  coisa prometia, depressa percebi que não seria assim...

  - Comida: depois de servirem cocktails, aperitivos e jantar à zona Vip a tripulação lá se lembrou dos restantes passageiros... nós.
  - A passageira do lado espreitava insistentemente para o saco que tinha no chão aos pés.... um outro passageiro aproximou-se,  sussurrou-lhe algo e ambos espreitaram o saco....Bem.....Queres ver que é aquela história do encontro com as não sei quantas virgens????
  Dobro-me e espreito a minha mochila ( e o saco dela...) e vejo um cão ou gato bebé....Um tempo depois pergunto-lhe em Inglês se é um cão ou um gato. Não percebe e responde num francês quase tão mau como o meu. Depois de algumas frases em francês fico a saber que é um cachorro de 3 meses, que está ligeiramente sedado para aguentar a viagem...
 
   O resto da viagem foi um filme:  acordar a minha vizinha Marroquina porque o cão estava a sair do saco... Eu própria espreitar o saco para ver se o cachorro estava bem... A vizinha e a C. a dormirem ambas viradas para mim... Cerca das 2:00 alguém da tripulação achar que ligar a tv com desenhos animados ( do século passado) e circo ( marroquino) era uma óptima ideia... Quase a aterrarmos um pequeno motim de um passageiro angolano e muito alcoolizado que exigiu uns valentes gritos da tripulação para que se mantivesse sentado e acabou restringido ( com algo parecido com algemas) no banco...
  Enfim.... mas pelo menos, e novamente, a refeição não foi muito má...pelo menos dava para perceber o que era!

E como correu a viagem? ( Parte III)

Casablanca

  Aterramos em Casablanca cerca das 16:00.

 

  Reuno-me com a C que apesar de viajar comigo ia num lugar diferente no avião. Verificamos a  hora e porta de embarque  do voo para Luanda e vamos explorar o aeroporto.

     Tomar um  café:  Feito!

     Fumar um cigarro : Onde? percorremos o aeroporto à procura de um espaço para fumadores e nada. Por todas as paredes ( numa média de 3 em 3 metros) estão sinais  ( do tamanho de  sinais de trânsito) com a imagem de proibido fumar e a frase em árabe, francês e inglês.

   Vamos a um guichet onde estão 3 raparigas ( Marroquinas) sentadas lado a lado e perguntamos onde podemos fumar... as duas das pontas respondem em simultâneo mas não em sintonia... uma diz no café e a outra diz que não se pode em sitio nenhum.. A seguir desatam a discutir em árabe.. a do meio ri. Interrompemos, agradecemos e vamos procurar o dito espaço.

  Descendo umas escadas vamos dar à área da "comida rápida" ( pelo menos a seta indica "Fast food")... O cheiro já paira no ar...mas as paredes tem a mesma sinalética de proibição. Numa ponta da zona das mesas estão várias pessoas a fumar. Com a emoção ( de ir fumar...) esqueço-me de onde estou e pergunto ( em Português) a um rapaz que fuma se realmente se pode fazer... Ele pede-me que fale em Inglês ( claro!) e travamos um interessante dialogo em que eu pergunto repetidamente se realmente se pode ( dado os sinais de proibição) e ele vai-me respondendo que sim, que se pode. Perante os meus argumentos " mas e os sinais? podemos mesmo??" ele termina com o que ficará a frase do dia : "yes, we can .. we´re in Morocco!"

 

 Às 19:30 vamos para a porta de embarque e descobrimos que o voo, vai sair mais tarde.... Esperamos até às 22:00 com Tugas,  Angolanos pomposamente vestidos para a viagem, Africanos de vários países com as suas famílias numerosas , mulheres com véu e até burkas...