(...) Chegou agora a vez de Dália Azul, Ouro Negro, do jornalista britânico Daniel Metcalfe (n. 1979). Embora tenha por subtítulo Viagem a Angola, as primeiras sessenta páginas do livro não são sobre Angola. Os dois primeiros capítulos reportam a São Tomé e Príncipe, país que Metcalfe utilizou como trampolim para Luanda. Nesse intervalo complacente entre Belgrave Square e o Mussulo, pôde reflectir sobre que tipo de sociedade iria encontrar numa cidade onde "os estrangeiros pagam quarenta dólares por uma sanduíche absolutamente repugnante" [em hotéis que] "são obscenamente caros e, na sua maioria, de má qualidade." Incomodado com os mosquitos da ilha do Príncipe e com os ratos que infestam a Riviera Angolana (a península do Mussulo), nem por isso o autor desistiu. Há vocações para tudo.
A exploração de petróleo é um dos eixos centrais. A Sonangol e o vertiginoso enriquecimento de famílias ligadas aos apparatchiks mais notórios ocupam boa parte da reportagem, indo até ao Angolagate de Falcone & Gaydamak.
Isto dito, Dália Azul, Ouro Negro não é um livro de viagens tradicional. É um tour d'horizon contextualizado politicamente sobre uma economia em crescimento acelerado. A abrir, o recreio são-tomense serve para denunciar o tráfico de escravos, com o picante adicional, pouco conhecido entre nós, de dar a conhecer o boicote dos grandes fabricantes de chocolate (ingleses, alemães e suíços) à importação de cacau daquela antiga colónia, após a publicação de A Modern Slavery (1908), de Henry Nevinson.
Além de notas, o volume inclui um glossário.
Crítica de Eduardo Pitta
Dália Azul, Ouro Negro, Daniel Metcalfe
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